Não são raros os casos de jogadores que têm sua vida feita e mesmo assim sofrem constantemente porque não sabem lidar com algo que falta - seja a família, a confiança, um grupo em que ele sinta-se confortável.
No caso dos jogadores do Internacional, era fácil observar o que os incomodava. Eles sofriam com um problema que já era claro para toda a torcida colorada e metade da população brasileira: o técnico.
Tite não tinha controle do vestiário, não se bicava com alguns jogadores essenciais, tinha dificuldade ou completa falta de noção com a parte tática - detalhe pessoal este que o impossibilitava a reconhecer Bolívar como apenas um zagueiro ou não achar como posicionar Sandro e Guiñazu em campo, transformando-os em moscas tontas.
E veio a mudança. Aliás, a mudança que demorou ao time do Internacional. A mudança que quase todos times da elite brasileira já fizeram este ano - a mudança de treinador. Mário Sérgio, antigo meio-campo, craque, que fora do elenco campeão brasileiro invicto do próprio Internacional, em 1979, e campeão mundial pelo grande rival do colorado, o Grêmio, em 1983.
Hoje, Mário Sérgio estreou no comando do clube gaúcho. Isto é, estreou apenas por estar ali, na área reservada aos técnicos, porque não chegou a treinar nem orientar o time. E, obviamente, não conseguiu colocar sua identidade no elenco. Mas já deu para perceber uma mudança no comportamento de alguns jogadores essenciais, além do seu posicionamento.
O Jogo: Internacional 3 x 1 Náutico
D'Alessandro jogou como um meia-atacante, fazendo o que ele faz de melhor: armando. Sem responsabilidade para marcar, e sendo servido por Kléber - com atuação de luxo -, Danilo e Andrezinho, o argentino fez uma ótima partida, mostrando mais vontade de jogo, e investindo constantemente, buscando o gol. Kléber teve mais liberdade para atacar, sendo resguardado por Fabiano Eller, quase como um meia. Danilo, com muito esforço, tentou investir constantemente, mas parou na sua própria dificuldade. Andrézinho cansou após um primeiro tempo em que atacou e marcou com qualidade.
E acabou por aí. Guiñazu e Lauro foram os últimos nomes dignos de citação do Internacional. El Cholo participou de dois dos três gols na vitória de números largos mas dificuldade verdadeira. O goleiro não teve culpa do gol sofrido, e fez boas defesas. A zaga do Inter ainda sofre com a falta de entrosamento, mas, resguardada por Glaydson - com boa resposta tática ao pedido pelo novo treinador -, mostrou-se já um pouco mais segura.
Infelizmente, tudo dito aplica-se ao Inter do primeiro tempo. No segundo, brigou muito para vencer a marcação do Náutico, com cinco desfalques, e chegou a levar sufoco durante alguns minutos. Alecsandro, apesar de fazer dois gols, aos 22 do primeiro e aos 44 do segundo, fez apenas isso - dois gols. E ambos de assistências primorosas por garçons decisivos. Tirando isso, fez uma atuação abaixo da média, talvez prejudicado por ser o único atacante escalado.
Mário Sérgio mostrou inteligência na substituição, no segundo tempo, de Andrezinho por Edu, já que o meia estava cansado e Alecsandro necessitava urgentemente de um parceiro no ataque. Mas Edu não rendeu o esperado, e, mesmo assim, entrou melhor que o centro-avante. Já na troca de Maycon por Danilo, o técnico colocou Glaydson na ala direita e Maycon de primeiro volante. Contestado pela torcida, Maycon não comprometeu, mas sua atuação pode ser limitada a "acertou dois passes". Glaydson, por sua vez, atuou bem na ala durante o pouco tempo proporcionado, participando do terceiro e último gol.
O gol do Náutico foi um acidente, marcado por sorte pelo clube pernambucano quando o Inter estava melhor. D'Alessandro marcou o seu de falta, aos 40 minutos do primeiro tempo, garantindo o domínio em campo e no placar.
O novo comandante do Inter teve um bom começo, mas deve tratar logo dos problemas recorrentes do time. Reabilitar D'Alessandro ele provou ser capaz - havia tempos que o camisa 10 colorado não jogava com tanta vontade. Os próximos passos são estabelecer uma defesa de confiança e a reestruturação tática da equipe, prejudicada pelos meses de confusão de Tite.
Mesmo com dificuldades, o Inter garantiu os três pontos e está de volta na briga pelo G4 e talvez até pelo título - tem adversários fáceis pela frente. A princípio, na dança das cadeiras dos técnicos brasileiros, o Inter levou a melhor. Repita-se: a princípio. Afinal, ganhou após um mês de jejum. Basta saber se dois meses - o prazo de Mário Sérgio - serão o suficiente para uma boa campanha. E se ele será capaz de proporcionar uma boa campanha, é claro.
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