
8h. Toca o despertador. Não aqui em casa, mas em pelo menos umas 200 casas em Pelotas. Todos sabem que chegou o dia, aquele dia que não chegava nunca, mas que todos esperaram como se fosse a final de um campeonato, a formatura de um filho, a promoção no emprego. Todo esse exercito vai para o mesmo lugar. Uns demoram três, alguns quatro e outros até cinco horas para chegar. Regados à cerveja, é claro, muitos não viram o tempo passar, enquanto outros contavam cada minuto do trajeto. Porto Alegre é o destino.
Chegando lá, todos se deparam com outras massas vindas de tudo que é canto do país e até de fora dele. É Florianópolis, Bahia, Uruguai e por aí vai. Então vem a pergunta: O que faz aproximadamente 30 mil pessoas se distanciarem de seus lares e afazeres para irem a um lugar, para muitos, bem distante de suas casas?
Sim você sabe a resposta, pode gritar bem alto. Metallica! Os quatro cavaleiros estarão tocando em POA nessa noite.
A primeira tarefa é comer algo, todos sabem que uma vez que se entra na fila só sairemos de lá ao final do show. Tarefa cumprida vamos ao que interessa. Fila gigantesca, caminhamos em direção ao final mas... estamos no Brasil, encontramos um “amigo” no meio da fila e, não me orgulho disso, mas é o Metallica, furamos a fila.
O sol começa a aparecer, as cervejas a esquentar, a camiseta preta com uma estampa gigantesca começa a torrar....porque estamos passando por isso mesmo? Ah sim, Metallica.
Depois de uma espera nem tão longa assim a fila começa a se mover, peguem seus ingressos, nós vamos entrar. Quando foi anunciado que o show mudaria de lugar ninguem imaginava o problema que teríamos. O terreno era de pedra/areia batida, choveu muito nos dias anteriores, ou seja, barro. Muito barro.
17h. Estamos já posicionados a frente do palco. 300 reais no ingresso VIP nos dá esse privilégio. Mas pera aí, o show é só às 21h. Quer dizer que eu vou ficar quatro horas em pé no meio de um chão todo embarrado? Sim. Por que? Porque é o Metallica.
20h. A banda Hybria subiu ao palco, músicos excelentes, mas som complexo e elaborado demais para minha cabeça e meu corpo que já estavam começando a sentir o desgaste do dia e da espera, mesmo assim um bom som, que ajudou a passar o tempo.
21h e15 min. As luzes se apagam, as musicas que ficam tocando para nos distrair param, a fumaça começa a sair do palco. Sim chegou a hora, era o momento que aguardei desde que eu tenho 13 anos, eles vão subir ao palco, é agor... “A HÁ! PEGADINHA DO MALANDRO”. As luzes se acendem de novo, volta a música ambiente, todos se olham um pouco irritados, mas não desapontados, porque sabemos o que nos espera a qualquer momento. O Metallica.
21h e 45min. Luzes se apagam novamente, cenas de O Bom, o Mau e o Feio começam a rodar no telão, o playback “The Ecstasy Of Gold” (composta por Ennio Morricone) começa a tocar. Qualquer fã de Metallica sabe o que significa a execução dessa música. They are coming!!
E vieram mesmo! Na primeira musica, “Creeping Death”, a morte literalmente veio do chão, ao primeiro riff da guitarra de James Hetfield eu voei uns 5 metros para o lado e fui esmagado por umas 200 pessoas. Não eram as pragas do Egito de que trata a música, era o poder do som da banda, mais rápido e pesado do que nunca.
O repertorio muito bem montado passando por todas as fazes da banda. Às primeiras notas de “Fade to Black” confesso que me arrepiei, e ao final da música segurei o choro, coisa que muitos na minha volta não conseguiram fazer. Tinha uma guria de 16 anos ao meu lado que chorou, assim como um velho de 40 que estava à minha frente. Todos aqueles que me empurraram e esmagaram agora choravam juntos. É o poder da música, é o poder do Metallica.
Ao final da execução da musica “That Was Just Your Life”, a frase proferida por James que me fez pensar e entender o que estava acontecendo. “Porto Alegre! This is your life!”. Exatamente. Lembro do primeiro solo de guitarra que aprendi, “Fade to Black”, faz muito tempo. Lembro do disco que mudou minha concepção sobre música, Master of Puppets. Lembro de quando ficava imaginando o dia em que poderia finalmente vê-los ao vivo. Era agora, estava realmente acontecendo.
Por fim todos deram um ultimo gás para gritar Seek & Destroy e encerrar da melhor maneira possível, com o peso que só essa banda sabe fazer.
Depois vieram os discursos, o português enrolado de cada um dos integrantes, e a promessa feita pelo baterista Lars Ulrich : “Não demoraremos outros 11 anos para retornar para cá”.
A família Metallica, como eles mesmos nos chamaram, estará esperando.
Agora são mais de quatro horas de viagem, num ônibus bem abaixo do que pode ser considerado decente para viajar. Meus tênis foram pro lixo por causa do barro, minha camiseta tem o suor de 200 pessoas, meu corpo está destruído e sem receber alimentação há umas nove horas. Mas nada importa. Por que?
Sim, isso mesmo.
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